Esse é também o núcleo teológico de sua compreensão de obediência. Ela não é simplesmente uma atitude mecânica e externa de submissão aos seuperiores, mas uma atitude de abertura que nasce e se alimenta no amor pessoal a Deus e na relação com ele, valor que deve ser buscado e exercitado mediante a oração,. “Como não posso ser obediente sem amar a Deus, me esforçarei para fomentar em mim o espírito de submissão mediante o espírito de oração.”
A oração lhe parece meio e caminho indispensável para crescimento, que ele chama de santificação, e está intimamente relacionada com o reclhimento, que é o contrário da dispersão e da exterioridade. “A oração é o meio mais eficaz para a própria santificação... Minha salvação depende da oração constante, e isso supõe recolhimento. Por isso amarei minha cela e guardarei o silêncio tanto quanto possível.” A oração é caminho eficaz para a santificação porque supõe e cultiva o diálogo e a abertura à vontade de Deus.
Mas para Berthier a oração é também o clima e o horizonte indispensável para que a missão produza frutos. Nas suas próprias palavras, é “a ajuda mais forte na conversão dos pecadores e na salvação das almas.” Por isso se propõe: “Em vista da oração deixarei de lado outros trabalhos, mesmo os que parecem importantes. Antes de subir ao púlpito, rezarei com ardor e me convencerei plenamente de que sozinho sou incapaz de fazer o bem das almas.”
Consolidando a consciência dos próprios limites e da absoluta dependência da graça de Deus, a oração é também um remédio eficaz contra o orgulho.“Depois da meditação, renovarei sempre meu propósito de lutar contra o orgulho... O orgulho é sinal de desordem e só provoca confusão. A verdadeira honra é se assemelhar a ti pela humildade!” Para Berthier, Jesus Cristo revela Deus mais pela humildade e compaixão que pelo poder.
Berthier sublinha sua condição de pobre diante de Deus, a humildade em seu sentido teológico e em sua força regeneradora: “Senhor, tu és o criador e nós somos apenas o barro. Tuas mãos me fizeram e me deram forma. Não tenho nada que me pertence a não ser o pecado... Não mereço ser honrado por aquilo que recebi de ti.” Essa convicção de que o bem que ele faz é ação da graça de Deus não é auto-desprezo, mas consciência da finitude humana e reconhecimento da bondade e gratuidade de Deus.
Nessa perspectiva escreve: “Pois não é verdade que nos louvam por supostos méritos que, aos teus olhos, não passam de iniqüidades? Com maior razão, nunca fomentarei elogios dirigidos a mim, jamais farei nada que tenha origem no amor próprio e não direi uma única palavra para louvar a mim mesmo.” E conclui com palavras profundamente evangélicas: “Que paz encontramos quando nos colocamos nos últimos lugares e amamos a humilhação!”
Dessa humildade de ser e disponibilidade total à graça de Deus brota o amor e o serviço aos humildes e pobres, essenciais à vida consagrada. “Concede-me, Senhor, que eu exerça o serviço que me confiaste com dedicação,sobretudo aos pequenos e pobres. E que eu faça isso por amor a ti, pois quiseste fazer-te pobre e pequeno para nossa salvação. E para edificar-nos, escolheste os pobres, os fracos e insignificantes, e deixaste as crianças se aproximarem de ti. Meu Deus, quanta paz experimenta quem serve os pobres!”
Pe. Itacir Brassiani msf