Vou ao Cemitério no Dia de Finados

Aproxima-se um dos dias mais emblemático de todo calendário civil e
religioso: o dia de finados – dia de sentimento de perda e de saudade, dia de
recolhimento, de silêncio e de oração, dia de esperança e de fé na ressurreição
dos mortos.
Com espírito pastoral, gostaria de condividir com vocês os sentimentos
mais profundos, as emoções mais verdadeiras e a fé mais autêntica e sincera que
invadem o meu coração de irmão, de amigo e de pastor:
Um autor desconhecido escreveu recentemente o seguinte: “tudo no mundo
morre. O tempo todo. A cada segundo, folhas caem, flores murcham, você pisa
numa formiga, a leoa acerta um pulo letal no cervo, 20 pessoas morrem em uma
enchente, criança leva bala perdida em tiroteio, motorista dorme ao volante e
caminhão choca-se com carro, matando toda uma família. É cientificamente
comprovado. Tudo que está vivo pode morrer. Mas quando alguém que você ama
morre, não há ciência, razão. O coração desliga-se do cérebro e grita sua dor
na única linguagem que conhece: a cada batida…”
A morte é a nossa companheira de viagem. Ela está presente em toda a
fase da nossa existência. A morte é certa; mas não há somente morte; a morte é
vida no além. Santa Teresinha já dizia: “não morro, entro na vida”. Jesus
Cristo é nossa páscoa, vida e ressurreição. Nossas vidas estão nas mãos de
Deus. No céu o veremos face a face e saberemos como Ele é.
No dia de finados é comum irmos ao cemitério para rezar pelos defuntos.
A oração por eles é tradição da Igreja católica. Outro dia, numa visita
pastoral, no cemitério, encontrei a seguinte frase, meio empoeirada, amarelada
pelo tempo, pouco observada, mas que continha uma grande verdade: “homenagem
dos que vão morrer aos que já morreram”.
Somente os que ainda não morreram podem homenagear os que já morreram.
Visitar o cemitério, mesmo sendo um costume antigo, é ainda hoje uma atitude
cristã louvável, quando nasce da fé e se alimenta da ressurreição. Não podemos
deixar que se percam nem o seu valor e nem a sua beleza. Mas como visitar um
cemitério? Como se comportar numa vista como esta? O que fazer? Como rezar? O
que levar e o que deixar?
A Igreja quando reza pelos defuntos tem em mente três motivos: –
primeiro, a comunhão existente entre todos os membros de Cristo, vivos e
mortos: na morte, como na vida, somos todos irmãos; – segundo, consolar,
confortar e prestar ajuda espiritual a quem está triste e enlutado pela morte
de um ente querido; – terceiro, ajudar espiritualmente a quem morreu, de modo
que, se for da vontade de Deus a oração ajude a se purificar e chegar a Deus.
Portanto, diante do desespero e do relativismo, que fazem ver a morte
como o final da existência, Jesus oferece a esperança da ressurreição e da vida
eterna, a fim de Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). É Ele quem nos faz
passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o
sentido da vida, das trevas para a luz, da descrença para a fé, do desalento
para a esperança que não engana.
Permitam-me, por gentileza, sugerir-lhes algumas atitudes para
acompanhá-los ao cemitério: – momento de oração: reservem um tempo para a
oração pessoal; – acendam velas para que seus entes queridos fiquem iluminados
pela luz de Cristo; – cubram suas sepulturas com os mantos das flores para a
beleza dos olhos e o encanto da alma; – ajudem nas limpezas do ambiente e dos
túmulos dos seus entes queridos; – participem das celebrações, eucarística ou
da palavra, escutem a Palavra de Deus e comunguem, se puderem; – e creiam na
ressurreição da carne e na vida eterna. Cristo ressuscitado, vida e esperança,
estará lá e se colocará no nosso meio para enxugar nossas lágrimas, fortalecer
nossa fé e aumentar a nossa esperança.
Neste Ano da Fé, eu, pessoalmente, “creio na remissão dos pecados; na
ressurreição da carne; na vida eterna; e espero a ressurreição dos mortos e a
vida do mundo que há de vir”.
Por todos os defuntos, rezemos juntos: “Descanso eterno, dai-lhes,
Senhor. E a luz perpétua os iluminem. Descansem em paz. Amém!
+Dom Pedro Brito Guimarães - Arcebispo de Palmas – To
Fonte: www.rcr.org.br